The Volleyball World Mourns The Death Of Legendary Bebeto de Freitas

It has been announced by Globo.com that legendary volleyball coach Bebeto de Freitas has passed away in Brazil. The International Volleyball Hall Of Fame inductee was 68 years old and was currently the general manager of one of Brazil’s most successful soccer clubs, Atlético-MG, a career path he chose after leaving volleyball due to his many fights with the sport’s governing authorities.

One of the country’s most important volleyball figures of all time, Bebeto leaves an enormous legacy behind. As a player, he represented Brazil in two Olympic games. He then left for the USA, to help it first professional volleyball to league to moderate initial success. It was as a coach though, that he rose to international stardom. His fame started in Brazil first for taking the country’s male national team to a silver medal in the 1984 Olympic Games, and second for being the mentor of Bernardinho and José Roberto Guimaraães, who were both his players and later assistants, and who later went on to win 10 Olympic medals as coaches between them.

The 1984 Olympic volleyball medal made volleyball explode in Brazil, causing the team, dubbed Silver Generation, to become instant rock stars. Bebeto then moved to Italy, where he conquered the word with the Azzurra squad by winning the 1998 FIVB World Championships.

Bernardinho and Guimarães weighed in on the loss of their mentor:

“Bebeto was very important. He was very young, at only 68 years old. He was a guy who transformed volleyball. The Silver Generation was born out of his hands. He was an innovator. A guy who did so much for volleyball. A warrior, a battler. A really incredible guy. Volleyball is what it is today because it had precursors like him. Bebeto was more than a coach to me, he was a friend. Brazil and volleyball lost an icon. It’s a shame he ended his life away from volleyball because he gave so much to the sport. By fighting what was wrong inside the sport, he ended up turning away from it and build a solid career as a soccer general manager. I think this was an incredible loss for us. If volleyball is certainly where it is today, Bebeto was largely responsible for that. So it’s a very difficult, hard time. It was a surprise. I’m sad, very sad.”Bernardinho

“Brazil lost a great figure, not only as a person, but also as a sportsman. I have a lot to thank Bebeto for the opportunities he gave me, for being his technical assistant. I always say he was my mentor. He was the one who gave me the opportunity, guided me, helped me, inspired me. It was extremely important to all of us from all generations of volleyball. He invented a volleyball school, as well as being a great person. He was a trainer ahead of his time. I think we lost a lot with Bebeto’s absence from volleyball later in his career. I pray that family be comforted in this difficult time for all of us. If we have the best volleyball school in the world, we have to thank Bebeto. He inspired people. His life was volleyball and family. Anytime for him was a time to talk fundamentals, planning, preparation. It was all his school, his head. He called me a “kid”: “Boy, I’m realizing that you’re going to want to be a volleyball coach. I will not give you much advice, but I’ll tell you something, do not copy other coaches. ” That inspires my life to this day, based on Bebeto’s teachings, what he created and what he guided us to. He was way ahead of his time.” – Guimarães

The president of the Italian Volleyball Federation Bruno Cattaneo, and one of his predecessors, Carlo Magri, also mourned the news:

Thinking of Bebeto can not fail to remind me of the many successes obtained in Parma and the national team, among which obviously stands out the Tokyo World Title in 1998. I am convinced that anyone who has known him carries an indelible memory . The whole world of volleyball must be grateful to Bebeto, because it is also thanks to his work that our discipline has developed in an important way. I want to send my most heartfelt condolences to his family.”

“The disappearance of Bebeto has caused me a great pain, for seven years I can say that he was an integral part of my life. During the period of the club and the national team a deep relationship had been created, even if some misunderstandings were not lacking. At the technical and management level of the game I have always considered him the best coach I have ever known, he knew how to read the matches with great clarity. He also had the great ability to see the talent and technical skills of the players, being very flexible in making the same athlete to play even more roles. In a general sense, he was a great connoisseur of all sport.”

 

BEBETO: MUITO ALÉM DO SEU PRÓPRIO TEMPO

Naquela noite, o time de vôlei do Municipal tremeu. Clube da zona norte do Rio de Janeiro, não era páreo para o Botafogo, com mais da metade de seu elenco inteiro convocado para a Seleção Brasileira. Mas, o destaque dos destaques era seu levantador. Sobrinho de João Saldanha, atrevido como o tio, Bebeto (ainda não havia incorporado o “de Freitas”) era um mágico. Era o tempo em que o vôlei tinha regras muito distintas das atuais. Naquela época, havia a vantagem e o ponto só acontecia após o saque ser confirmado. O set era de 15 pontos, embora muito mais longo. Mas o que consagrava Bebeto era o bloqueio valer como toque. O levantador precisava dominar os fundamentos manchete e toque com precisão. Precisava colocar a bola na pinta para os atacantes, sem cometer dois toques ou condução. E aí, Bebeto sobrava.

O jogo contra o Municipal naquela noite foi um passeio. Três sets a zero, parciais de 15/1, 15/1 e 15/0. Do massacre botafoguense ficou na memória um lance: o ataque explodiu no bloqueio, e a bola ia cair atrás dele, sem peso, mansa. Bebeto então surge, rola e se posiciona embaixo da bola que estava a menos de um metro de distância do chão. Com um toque preciso faz o levantamento para Paulão, ponta-atacante do Botafogo. Do outro lado da quadra, o levantador do Municipal estava estático. Não montou o bloqueio duplo para evitar o ataque de Paulão. Ainda olhava para Bebeto, admirando aquele ser do outro mundo.

O tempo passou. Enquanto Bebeto incorporava o “de Freitas” e assumia o cargo de treinador da Seleção Brasileira de Vôlei, o levantador do Municipal era agora jornalista esportivo. Assim como antes, Bebeto de Freitas inovava. Ao perceber que tinha jogadores mais baixos que seus principais adversários, apostou num jeito brasileiro de jogar, incorporando a velocidade asiática no ataque e o posicionamento mais dentro de quadra das escolas soviética e polonesa. Aliou a isso, a inventividade de seus jogadores. Foi com ele que Bernard trouxe da praia o saque Jornada nas Estrelas e William o Viagem ao Fundo do Mar. Foi também de Bebeto a ideia de bloquear o saque adversário.

O Brasil, até então mediano no cenário mundial do Vôlei, passou a protagonista, conquistando a medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles. Era ele o técnico na vitória sobre a até então imbatível União Soviética de Savin e Zaitsev, no Maracanãzinho,

por três sets a dois (2/15, 15/13, 15/12, 13/15 e 15/7), partida que durou três horas e meia. Era a final do Mundialito realizado no Rio, dois anos antes dos Jogos Olímpicos. Ali, naquela quadra, naquele 25 de setembro de 1982, começava a hegemonia brasileira. Um ano depois, de novo contra a União Soviética, a histórica partida no Maracanã, debaixo de um público de mais de 90 mil pessoas e uma chuva torrencial. Mais uma vitória brasileira, dessa vez por três sets a um.

Bebeto formou uma gangue de exímios levantadores. William, Bernardinho, Maurício, Ricardinho (a quem classificava de genial), Marcelinho… todos têm no seu DNA cadeias genéticas transferidas pelo treinador. Bernardinho é o que mais se aproxima. Não pela qualidade técnica de jogador, mas pelo confessado aluno que foi. “Eu sentava ao lado dele no banco para aprender. Não era o titular da seleção e dei sorte. Suguei o que podia”, disse uma vez. Mas era o titular do time da Atlântica-Boavista, equipe profissional também dirigida por Bebeto e bancada pelo mecenas Antonio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, dono da gigante corretora de valores da época,. Saiu da seleção ao brigar com Carlos Arthur Nuzman, então presidente da CBV, e seu antigo companheiro de time, no Botafogo. Bebeto foi para a Itália provocar nova revolução e transferindo a hegemonia do leste europeu para o vôlei italiano. Por aqui, seus discípulos Radamés Lattari Filho, José Roberto Guimarães e Bernardinho tratavam de dar continuidade ao seu trabalho de fazer o Brasil liderar o vôlei mundial

Inquieto e apaixonado pelo Botafogo, Bebeto se meteu no que classificou de “a pior fria da minha vida”. Assumiu a presidência do clube e, com uma administração corajosa – e também controversa – imprimiu nova imagem, marcada, principalmente, pelo arrendamento do Estádio Nilton Santos. As constantes brigas internas no Botafogo – o gênio do tio Saldanha era uma de suas características de comportamento – fizeram com que se afastasse do clube. Um dia, chorando, disse: “eles não sabem o quanto eu amo o Botafogo. Eles não sabem”.

Inquieto, inovador, brigão, carinhoso, exigente, amoroso e genial, Bebeto de Freitas morreu. Aos 68 anos, um ataque fez seu coração enorme parar de bater. Fazia o que mais gostava: inovar. Trazia para o Atlético Mineiro um time de futebol americano, um projeto pronto, sem custo e vencedor, como afirmou em entrevista coletiva, minutos antes cair ao chão no Hotel da Cidade do Galo.

Bebeto não deixa vazios. Seu legado é imenso e sempre foi prazeroso para ele transferir conhecimento. Parafraseando Getúlio Vargas, Bebeto de Freitas saiu da vida e entrou para a história. O vôlei brasileiro é o que é, hoje, por sua culpa.

Em tempo: o levantador do Municipal que assistiu atônito aquela obra de arte produzida por Bebeto era eu.