Presidente do Botafogo entre 2003 e 2008, Bebeto resgatou a autoestima após rebaixamento inédito, conseguiu estádios, entre eles o Nilton Santos, e pôs fim a jejum no futebol
Glorioso. Assim foi Bebeto de Freitas, que na terça-feira virou mais uma estrela da constelação que forma a história do clube da Estrela Solitária. Onze vezes campeão consecutivo como jogador de vôlei, deixou um importante legado também como presidente do clube, posto que ocupou entre 2003 e 2008.
Botafoguense desde o berço e de laços com os históricos alvinegros João Saldanha e Heleno de Freitas, de quem era sobrinho e primo respectivamente, teve uma passagem enérgica pela cadeira de presidente. Emotivo e explosivo, levou profissionalismo e uma paixão exacerbada ao clube que lhe rendeu críticas em alguns momentos.
Bebeto de Freitas, além de ex-atleta, foi um dos grandes presidentes da história do Botafogo
Engenhão, Caio Martins e Estádio Luso-Brasileiro
É incontestável que o grande feito de seus seis anos como mandatário alvinegro foi a conquista do Nilton Santos. Em 2003, sua gestão fundou a empresa Companhia Botafogo, criada para disputar – e posteriormente vencer – a administração do estádio que à época ainda era chamado Engenhão.
Mas, antes da conquista do Nilton Santos, teve outras duas ideias que permitiram ao Botafogo ter uma casa para jogar. Também em 2003, ano em que assumiu o clube, revitalizou o Caio Martins. Com capacidade para 15 mil pessoas, o estádio foi grande aliado na volta do Alvinegro à elite após inédito rebaixamento.
Com sete livros escritos sobre Botafogo e professor de jornalismo na Uerj, o alvinegro Rafael Casé destaca que a criação do programa “Botafogo no Coração”, do qual o próprio Bebeto foi garoto-propaganda.
– Ele emprestou a credibilidade dele para criar um plano de sócio-torcedor quando o time estava na pior, na segundona. Me lembro bem do comercial. Era ele sozinho sentado na arquibancada do Caio Martins. Graças a essa campanha “Botafogo no Coração”, a torcida se fez presente e ajudou o time a não entrar numa espiral descendente que seria fatal – afirmou Casé.
Bebeto, durante eleição presidencial do Botafogo de 2014
Com preços populares, a torcida abraçou o time na Série B, e o Botafogo voltou à Primeira Divisão ao lado do Palmeiras.
Dois anos depois, Bebeto teve criatividade para encontrar um local rentável para mandar os jogos do Brasileiro de 2005, já que o Maracanã estava fechado para obras dos Jogos Panamericanos do Rio.
Entrou em contato com o vice de marketing do Flamengo na época, João Henrique Areias, e propôs uma parceria para, com o apoio da Petrobras, ampliar o Luso-Brasileiro, da Portuguesa, na Ilha do Governador. Márcio Braga gostou, arquibancadas tubulares foram erguidas, e o estádio foi o segundo em média de público naquela competição.
– Tudo sempre foi respeitado. Nem nos clássicos houve problema. Foi um sucesso, principalmente no ponto de vista do negócio, Botafogo e Flamengo não gastaram um tostão para montar o estádio – contou Bebeto, em entrevista ao GloboEsporte.com, em 23 de agosto de 2017.
Fim de jejum e polêmicas em 2008
Depois de receber de Mauro Ney Palmeiro um clube afundado em dívidas, iniciou um trabalho de reconstrução. A partir de 2006 passou a conseguir patrocinadores, montou time muito competitivo e deu fim a um jejum de oito anos. O Carioca veio com Dodô na figura de protagonista.
No ano seguinte, o protagonista era o Botafogo. O “Carrossel Alvinegro” de Cuca brilhou no estadual, mas acabou derrotado pelo Flamengo na decisão e com direito a muita reclamação por conta de erros da arbitragem no fim do jogo – Djalma Beltrami marcou impedimento de Dodô em lance no qual o atacante poderia ter marcado o gol do título e o expulsou após ele chutar a bola para as redes.
No Brasileiro, o Botafogo chegou a liderar a competição no início, mas o caso de doping de Dodô acabou atrapalhando o prosseguimento da equipe na competição.
Ao lado de Lucio Flavio, Bebeto de Freitas estava revoltado
Em 2008, algumas polêmicas que expuseram sua personalidade forte. Julgando-se prejudicado contra o Flamengo na Taça Guanabara daquele ano, foi à sala de imprensa onde fez um desabafo emocionado e chegou a cogitar seu afastamento da presidência.
Meses depois, durante o Brasileiro, mesmo aos 58 anos, entrou em campo durante confusão iniciada pelo zagueiro Andre Luis na partida contra o Náutico, no Recife. Revoltado com o tratamento dado ao grupo alvinegro, saiu em defesa dos alvinegros. Chegou a ser detido. E disparou:
– O Fábio levou uma porrada de cassetete. O Alessandro levou pimenta no rosto, o Diguinho apanhou e foi ameaçado pelo policial, o Carlos Alberto entrou também. Depois de tudo, em uma área mais reservada que a TV não mostra, foi o pior. Teve confusão e empurra-empurra. Todos são culpados. O árbitro, o Náutico, a polícia e a Federação Pernambucana. Eles vão pagar por isso. Tudo o que o Botafogo tiver condições para fazer, vamos fazer. Não pode passar despercebido. Não podemos jogar em um lugar e apanhar da polícia. Nem na ditadura acontecia isso.
– Fui agredido pelos policiais. Da mesma forma que me defendi. Mas não fiz exame de corpo de delito. Ainda sinto umas dores na barriga de uma pancada que recebi durante a confusão. E não aceitei a proposta do juiz para fazer um acordo e encerrar o caso. Ele queria que eu pagasse dez salários mínimos divididos em duas vezes. Preferi ser indiciado. E tenho o processo para responder agora. Não admito que tenha feito algo de errado. O que vai acontecer não sei. Não estou aqui no Botafogo para levar porrada de polícia.
Esse foi o Bebeto do Botafogo. Um defensor apaixonado do Glorioso. Da quadra ao campo, um campeão que se notabilizou pelas conquistas esportivas e pela defesa de seus ideais com muita emoção. Muitas vezes ultrapassava o limite da razão. Mas era Bebeto. Era Botafogo.
FONTE: Glorioso Botafogo